Quatro grupos familiares - Grupo Folha, Grupo Globo, Grupo Estado e Grupo RBS (este último o único regional a figurar nessa lista) - e um condomínio acionário (Grupo Diários Associados) dominam o mercado de jornais diários (quality papers) no Brasil. Em 2015, esses grupos representavam quase 44% da circulação nacional dos títulos auditados pelo Instituto Verificador de Circulação – IVC (ANJ, 2016). Outro grupo familiar, Grupo Sada, que inclui negócios de mídia do empresário italiano e ex-deputado federal Vittorio Medioli, publica pela Sempre Editora S.A. o Super Notícia, tabloide popular com a maior circulação diária no país desde 2010.
Nos últimos anos, a tiragem média diária dos dez principais jornais impressos brasileiros está em queda: decresceu de 1,26 milhão de exemplares em 2014 para 1,07 milhão em 2015, depois para 910 mil exemplares em 2016 e chegou a 736 mil exemplares em dezembro de 2017. A crise do impresso foi em parte compensada pela versão digital dos jornais. Mas isso não foi suficiente para compensar a perda de assinantes: entre 2014 e 2017, os diários perderam 500 mil leitores (quase 520 mil a menos de assinantes na versão impressa e cerca de 32 mil novos assinantes digitais, segundo o website de jornalismo Poder 360).
Dados históricos - Os jornais impressos estão na origem dos grupos de mídia brasileiros. Durante todo o século XX grupos familiares estiveram no controle desse meio de comunicação. Mas nas primeiras décadas do século XIX foi diferente: as empresas jornalísticas pioneiras surgiram de coligações políticas ou confrarias intelectuais alinhadas para promover a independência do Brasil de Portugal, que se efetivou em 1822. Financiados pela elite comercial em ascensão, os dois grupos dominaram a imprensa no período pós-independência, que durou até a proclamação da República em 1889. Naquele período, na ausência de qualquer regulação para a atividade de imprensa, estrangeiros estavam entre os proprietários de mídia impressa, como o francês Pierre Plancher, que em 1827 fundou no Rio de Janeiro o Jornal do Commercio, hoje do Grupo Diários Associados (GOULART, 2007).
No final do século XIX as publicações ainda não eram grupos de mídia formais. Registros históricos mostram que, oficialmente, os jornais apresentavam-se ligados a figuras proeminentes, em especial no Rio de Janeiro, capital do país no Império e na República. Na verdade, naquele período muitos jornais pertenciam a estrangeiros – que controlavam as oficinas de impressão, os imóveis onde estavam instaladas e inclusive “o crédito para a compra da tinta e do papel” (EDMUNDO, 1938, p. 1056). Essa situação começa a mudar no início do século XX: em 1901, no Rio de Janeiro, o advogado Edmundo Bittencourt cria o Correio da Manhã e, em 1902, em São Paulo, Júlio de Mesquita é o primeiro representante da família Mesquita à frente do jornal O Estado de S. Paulo. Na década seguinte, em 1918, o conde Ernesto Pereira Carneiro assume no Rio de Janeiro o controle do Jornal do Brasil. Em outras capitais brasileiras, grupos familiares regionais controlavam a publicação de jornais – como a família Figueroa de Faria, proprietária do Diário de Pernambuco, na região nordeste; a família Caldas, dona do Correio do Povo no estado do Rio Grande do Sul; e a família Santos, fundadora do Jornal do Commercio de Manaus, no estado do Amazonas.
Apesar da característica familiar predominante no setor de jornais, o primeiro conglomerado de mídia no Brasil surgiu em 1924 como iniciativa de um profissional, o advogado e jornalista Assis Chateaubriand. Depois de assumir a direção de O Jornal, no Rio de Janeiro, Chateaubriand começou a construir o primeiro grupo privado do setor criando ou comprando impressos em todas as regiões. Três décadas depois os Diários Associados controlavam quase 100 veículos de comunicação – entre jornais, emissoras de rádio e de televisão, revistas de informação, revistas infantis, uma agência de notícias e uma editora. Chateaubriand não deixou herdeiros e boa parte do império que construiu começou a se desfazer depois da sua morte em 1968. Outro conglomerado nacional – o Grupo Globo, da família Marinho – se constituiria 40 anos depois da criação dos Diários Associados.